De tempos a tempos a humanidade tem o privilégio de assistir ao nascimento de pessoas com a capacidade de se sobreporem à normalidade e influenciarem o curso da História. Foi o que aconteceu em 1922, em Grijó de Vale Benfeito, Trás-os-Montes, com o nascimento de Adriano Moreira, uma das personalidades portuguesas mais marcantes do Portugal contemporâneo.
Nascido a 6 de setembro de 1922, Adriano José Alves Moreira foi Estadista, Professor, Político e notável estudioso de assuntos de política internacional.
Ainda na adolescência, destacou-se no Liceu Passos Manuel pela sua capacidade de estar atento aos problemas com que era confrontado. Já na Faculdade de Direito, revelou ser um aluno exemplar, obtendo o diploma aos 21 anos. Depressa ganhou prestígio e visibilidade como advogado.
Aos 28 anos, em 1950, foi convidado para ser Professor da Escola Superior Colonial, hoje ISCSP-ULisboa, onde criou o Centro de Estudos Políticos e Sociais, em 1956. Mais tarde, em 1958, assume funções como diretor da Escola que passa a designar-se Instituto Superior de Estudos Ultramarinos. Com um notável trabalho de investigação, Adriano Moreira foi responsável pela importante tarefa de adequar esta Escola aos desafios dos tempos em mudança.
Enquanto Professor, entusiasmou várias gerações de jovens promissores que mais tarde se tornaram Professores do Instituto Superior de Estudos Ultramarinos (ISEU) e desenvolveram investigação na área das Ciências Sociais.
Entre 1957 e 1959 fez parte da delegação portuguesa na ONU, enviando relatórios para o Ministro do Ultramar, que tutelava também o Instituto. Defensor das questões dos Direitos Humanos e da dignidade humana, foi por várias vezes crítico à administração colonial portuguesa. Estas tomadas de posição valeram-lhe o convite para subsecretário de Estado da Administração Ultramarina, em 1960. No ano seguinte, em 1961, é nomeado Ministro do Ultramar a convite de António de Oliveira Salazar, para que aplicasse as reformas que defendia. Uma passagem curta pelo Governo, que durou apenas até 1962, ficando claro que a política reformista de Adriano Moreira, que sugeria a conciliação entre etnias e culturas, não se enquadrava na ideologia do Estado Novo.
Comunicador de excelência, rigoroso na transmissão dos conhecimentos, em janeiro de 1963 regressa como professor do Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina (ISCSPU). Sempre atento e valorizando o contacto com os alunos, Adriano Moreira teve um papel fundamental na introdução em Portugal da Ciência Política como disciplina intelectual independente.
Em 1969, aquando de uma revolta estudantil contra o regime, e à qual não se opôs, é exonerado do cargo de Diretor do Instituto de Estudos Superiores Ultramarinos pelo Ministro de Educação Nacional.
Adriano Moreira destacou-se como figura incontornável na academia, na sua Escola de sempre - o ISCSP-ULisboa, mas também nas Forças Armadas, onde impulsionou o pensamento estratégico e aproximou os universos civil e militar.
A sua permanente inquietude e a necessidade de exercer uma cidadania ativa, impulsionou-o a ter durante toda a sua vida um papel muito ativo na sociedade civil, destacando-se a presidência da Sociedade Geografia de Lisboa, a presidência da Academia de Ciências de Lisboa, e a sua atividade política, como militante e presidente do CDS e como deputado e Vice-Presidente da Assembleia da República. Não pode também deixar de ser evidenciado o seu relevante papel como Conselheiro de Estado.
Com uma vasta obra do domínio do Direito e da Política Ultramarina, da Ciência Política, das Relações Internacionais e da Estratégia, foi também premiado com diversas condecorações nacionais e internacionais.
O ISCSP-ULisboa, instituição a quem o Professor Adriano Moreira dedicou grande parte da sua vida, reconhece publicamente neste momento de pesar, a enorme dívida de gratidão que tem para com o Professor Adriano Moreira, assim como as várias gerações de ISCSPianos, passadas e futuras.
A transformação cientifico-pedagógica que promoveu no nosso Instituto, que se constituiu como uma verdadeira refundação da instituição, permitiu que esta se afirmasse como uma escola de ciências sociais. Permitindo, através da sua ação, que o ISCSP-ULisboa fosse pioneiro no panorama académico português, no ensino da Antropologia Cultural, da Sociologia, da Ciência Política, das Relações Internacionais, da Estratégia e da Geopolítica.
Esta profunda transformação foi determinante para que o Instituto conseguisse ultrapassar com sucesso os sérios desafios que lhe estavam reservados, antes e depois da revolução de Abril, e comemorar os seus 116 anos em janeiro passado como a Escola de Ciências Sociais e Políticas da maior universidade portuguesa, com qualidade reconhecida nacional e internacionalmente.
Como académico deixa também um legado notável, aquém e além-fronteiras, sendo reconhecido pelos seus pares como uma figura incontornável e determinante na história do ensino da Ciência Política e das Relações Internacionais em Portugal.
São várias as gerações de académicos que se sentem seus discípulos e que se inspiram diariamente no seu legado teórico-conceptual.
Obrigado pelo tanto que nos deu e será para sempre um nome maior da família ISCSPiana.