Ana Esgaio, mestre e docente no ISCSP, é a vencedora da primeira edição do Prémio Grupo de Reflexão e Apoio à Cidadania Empresarial (GRACE) de investigação em Responsabilidade Social Empresarial (RSE). Este prémio visa distinguir o melhor projecto de investigação académica na área, realizado por estudantes de pós-graduação, mestrado ou doutoramento.
Reconhece, em entrevista ao ISCSP Online, que o seu estudo traz elementos que conferem “alguma inovação” à RSE. E entende que as preocupações de Responsabilidade Social não se devem circunscrever à realidade empresarial, mas antes devem ser incorporadas em todos os tipos de organizações.
A premiada admite que as organizações não lucrativas e empresas estão a desenvolver acções relevantes na Economia Social e Solidária, explicando-se tal pelas limitações económico-financeiras da Administração Pública. E, apesar da crescente valorização das redes de actores envolvidas em acções nesta área, Ana Esgaio identifica “preconceitos e estereótipos”, que persistem e são “necessários trabalhar”.
A sua experiência profissional na Câmara Municipal de Oeiras, a actividade académica e investigação no ISCSP e, agora, o referido prémio são estímulos para continuar a estudar a RSE e a expandir o respectivo valor para novas áreas de actuação, entre as quais as universidades.
Reconhece, em entrevista ao ISCSP Online, que o seu estudo traz elementos que conferem “alguma inovação” à RSE. E entende que as preocupações de Responsabilidade Social não se devem circunscrever à realidade empresarial, mas antes devem ser incorporadas em todos os tipos de organizações.
A premiada admite que as organizações não lucrativas e empresas estão a desenvolver acções relevantes na Economia Social e Solidária, explicando-se tal pelas limitações económico-financeiras da Administração Pública. E, apesar da crescente valorização das redes de actores envolvidas em acções nesta área, Ana Esgaio identifica “preconceitos e estereótipos”, que persistem e são “necessários trabalhar”.
A sua experiência profissional na Câmara Municipal de Oeiras, a actividade académica e investigação no ISCSP e, agora, o referido prémio são estímulos para continuar a estudar a RSE e a expandir o respectivo valor para novas áreas de actuação, entre as quais as universidades.
Texto e Imagem GCI
O que a motiva nesta área de investigação?
A área de investigação da Responsabilidade Social das Organizações é potenciadora do estudo das interacções entre desenvolvimento comunitário, intervenção social e dinâmica dos actores locais, aspectos que têm marcado o meu investimento profissional quer em termos académicos, quer em termos do trabalho no contexto das autarquias locais.
Desta forma, parece-me essencial contextualizar territorialmente a Responsabilidade Social das Organizações, analisando os factores facilitadores e constrangimentos que se poderão colocar ao desenvolvimento de políticas e práticas nesta área.
A minha perspectiva é a de que as preocupações de Responsabilidade Social não se colocam apenas às empresas, devendo ser incorporadas em tipos diversos de organizações (empresas, organizações não lucrativas e entidades da administração pública local). As práticas resultantes desta incorporação deverão estar intimamente ligadas aos processos de gestão organizacional mais globais e ao core business das organizações, apostando em primeira linha em práticas internas que terão, potencialmente, um impacto a nível externo e que permitam desenvolver a actuação de uma forma consistente, ultrapassando as limitações de uma acção mais pontual.
A área de investigação da Responsabilidade Social das Organizações é potenciadora do estudo das interacções entre desenvolvimento comunitário, intervenção social e dinâmica dos actores locais, aspectos que têm marcado o meu investimento profissional quer em termos académicos, quer em termos do trabalho no contexto das autarquias locais.
Desta forma, parece-me essencial contextualizar territorialmente a Responsabilidade Social das Organizações, analisando os factores facilitadores e constrangimentos que se poderão colocar ao desenvolvimento de políticas e práticas nesta área.
A minha perspectiva é a de que as preocupações de Responsabilidade Social não se colocam apenas às empresas, devendo ser incorporadas em tipos diversos de organizações (empresas, organizações não lucrativas e entidades da administração pública local). As práticas resultantes desta incorporação deverão estar intimamente ligadas aos processos de gestão organizacional mais globais e ao core business das organizações, apostando em primeira linha em práticas internas que terão, potencialmente, um impacto a nível externo e que permitam desenvolver a actuação de uma forma consistente, ultrapassando as limitações de uma acção mais pontual.
Na sua investigação quais as conclusões que apresenta ao caso particular e que poderão ser aplicadas às mais diversas organizações?
Sendo já conhecidas as limitações que a Administração Pública encontra no combate às situações de pobreza e exclusão social, as organizações não-lucrativas e as empresas têm um papel cada vez mais decisivo neste domínio. As empresas em particular têm encontrado um espaço para o desenvolvimento de acções a nível da Economia Social e Solidária, fortemente interligado com sua acção em termos de Responsabilidade Social e poderão beneficiar do trabalho em Rede no sentido de melhorar o seu conhecimento da realidade envolvente.
Relativamente aos principais resultados do estudo destacaria alguns aspectos. Verifica-se a existência de representações sociais diversas de empresas e organizações não-lucrativas face à Responsabilidade Social. Por outro lado, se bem que existe uma valorização das Redes de actores no desenvolvimento de acções nesta área, persistem alguns preconceitos e estereótipos mútuos que parece necessário trabalhar, uma vez que funcionam como constrangimento para a acção. É ainda patente a necessidade das entidades da administração pública local, particularmente dos Municípios, envolverem de uma forma mais eficaz as organizações na definição da sua estratégia de desenvolvimento territorial. Este envolvimento poderá potenciar os recursos colocados à disposição da intervenção social pelas organizações (que não se resumem aos recursos financeiros), mas também levar a uma maior coordenação dos interesses económicos e sociais em determinado contexto territorial.
O estudo permitiu ainda identificar, no contexto particular em análise, três variáveis que funcionam como factores críticos de sucesso nos processos de criação e manutenção de Redes Locais de Responsabilidade Social: o estabelecimento de relações de reciprocidade entre actores, já que cada actor transfere para os restantes conhecimento próprio da sua área de negócio ou actuação, recebendo conhecimento útil ao desenvolvimento desta mesma área, o desenvolvimento de competências para a cooperação, particularmente nas áreas da comunicação, planeamento e execução e avaliação e a disseminação das práticas desenvolvidas, já que, dada a forte influência dos líderes na área da Responsabilidade Social nas práticas implementadas nas organizações, estes têm de assegurar a disseminação desta mensagem no seio das organizações e mesmo junto de outras organizações o que facilitará os processos de incorporação e de sustentabilidade das práticas.
Sendo já conhecidas as limitações que a Administração Pública encontra no combate às situações de pobreza e exclusão social, as organizações não-lucrativas e as empresas têm um papel cada vez mais decisivo neste domínio. As empresas em particular têm encontrado um espaço para o desenvolvimento de acções a nível da Economia Social e Solidária, fortemente interligado com sua acção em termos de Responsabilidade Social e poderão beneficiar do trabalho em Rede no sentido de melhorar o seu conhecimento da realidade envolvente.
Relativamente aos principais resultados do estudo destacaria alguns aspectos. Verifica-se a existência de representações sociais diversas de empresas e organizações não-lucrativas face à Responsabilidade Social. Por outro lado, se bem que existe uma valorização das Redes de actores no desenvolvimento de acções nesta área, persistem alguns preconceitos e estereótipos mútuos que parece necessário trabalhar, uma vez que funcionam como constrangimento para a acção. É ainda patente a necessidade das entidades da administração pública local, particularmente dos Municípios, envolverem de uma forma mais eficaz as organizações na definição da sua estratégia de desenvolvimento territorial. Este envolvimento poderá potenciar os recursos colocados à disposição da intervenção social pelas organizações (que não se resumem aos recursos financeiros), mas também levar a uma maior coordenação dos interesses económicos e sociais em determinado contexto territorial.
O estudo permitiu ainda identificar, no contexto particular em análise, três variáveis que funcionam como factores críticos de sucesso nos processos de criação e manutenção de Redes Locais de Responsabilidade Social: o estabelecimento de relações de reciprocidade entre actores, já que cada actor transfere para os restantes conhecimento próprio da sua área de negócio ou actuação, recebendo conhecimento útil ao desenvolvimento desta mesma área, o desenvolvimento de competências para a cooperação, particularmente nas áreas da comunicação, planeamento e execução e avaliação e a disseminação das práticas desenvolvidas, já que, dada a forte influência dos líderes na área da Responsabilidade Social nas práticas implementadas nas organizações, estes têm de assegurar a disseminação desta mensagem no seio das organizações e mesmo junto de outras organizações o que facilitará os processos de incorporação e de sustentabilidade das práticas.
Qual a importância deste prémio para a investigação académica?
Penso que a principal mais-valia do Prémio promovido pelo GRACE é o facto de procurar sistematizar contributos teóricos na área da Responsabilidade Social, mas que possam ter implicações práticas na prossecução de trabalho neste domínio, nomeadamente através da identificação dos factores que poderão influenciar o desenvolvimento e sustentabilidade da actuação das organizações, em particular das empresas. Num contexto económico-financeiro que à partida poderia colocar limitações nesta actuação, penso que a valorização da investigação académica nesta área poderá facilitar a identificação de um conjunto de oportunidades que surgem precisamente através da partilha de competências de actores tão diversificados.
Penso que a principal mais-valia do Prémio promovido pelo GRACE é o facto de procurar sistematizar contributos teóricos na área da Responsabilidade Social, mas que possam ter implicações práticas na prossecução de trabalho neste domínio, nomeadamente através da identificação dos factores que poderão influenciar o desenvolvimento e sustentabilidade da actuação das organizações, em particular das empresas. Num contexto económico-financeiro que à partida poderia colocar limitações nesta actuação, penso que a valorização da investigação académica nesta área poderá facilitar a identificação de um conjunto de oportunidades que surgem precisamente através da partilha de competências de actores tão diversificados.
Que aplicação prática terá este prémio na realidade portuguesa?
O prémio incorporou, do meu ponto de vista, a lógica da Responsabilidade Social, já que é materializado através de uma semana de trabalho no Reino Unido em contacto com a Young Foundation e a Social Innovation Exchange, organizações de referência em matéria de inovação social e Responsabilidade Social.
Esta abordagem do prémio privilegia aquilo que deve ser central no trabalho em Responsabilidade Social: proporcionar momentos de encontro entre actores, incentivando a partilha de competências e a construção conjunta de concepções, práticas e de metodologias de avaliação nesta matéria.
Desta forma, em termos globais, o prémio permite a construção de relações entre indivíduos e organizações a nível internacional, facilitando a partilha de boas práticas e desempenhando, assim, um papel também extremamente relevante no desenvolvimento da Responsabilidade Social a nível nacional.
Por outro lado, e analisando a relevância do trabalho distinguido, considero que o estudo apresenta bastante pragmatismo para os diversos tipos de organizações, uma vez que apresenta uma visão sistémica da realidade, tendo como unidade de análise, uma unidade territorial. Este aspecto confere-lhe alguma inovação do ponto de vista das investigações que têm sido levadas a cabo, centrando-se no processo de construção da Responsabilidade Social como produto das relações de reciprocidade estabelecidas com os stakeholders. Desta forma, a experiência relatada poderá apoiar o tecido empresarial no sentido de encontrar as oportunidades de desenvolvimento de práticas mais adequadas ao seu core business (e mesmo de desenvolver uma política de Responsabilidade Social própria), optimizando as suas competências e recursos, ao serem apoiadas por outras organizações nas competências mais distantes do seu domínio de negócio.
A Economia Social e Solidária e os Serviços de Proximidade em Portugal: a constituição de redes locais de Responsabilidade Social.
O prémio incorporou, do meu ponto de vista, a lógica da Responsabilidade Social, já que é materializado através de uma semana de trabalho no Reino Unido em contacto com a Young Foundation e a Social Innovation Exchange, organizações de referência em matéria de inovação social e Responsabilidade Social.
Esta abordagem do prémio privilegia aquilo que deve ser central no trabalho em Responsabilidade Social: proporcionar momentos de encontro entre actores, incentivando a partilha de competências e a construção conjunta de concepções, práticas e de metodologias de avaliação nesta matéria.
Desta forma, em termos globais, o prémio permite a construção de relações entre indivíduos e organizações a nível internacional, facilitando a partilha de boas práticas e desempenhando, assim, um papel também extremamente relevante no desenvolvimento da Responsabilidade Social a nível nacional.
Por outro lado, e analisando a relevância do trabalho distinguido, considero que o estudo apresenta bastante pragmatismo para os diversos tipos de organizações, uma vez que apresenta uma visão sistémica da realidade, tendo como unidade de análise, uma unidade territorial. Este aspecto confere-lhe alguma inovação do ponto de vista das investigações que têm sido levadas a cabo, centrando-se no processo de construção da Responsabilidade Social como produto das relações de reciprocidade estabelecidas com os stakeholders. Desta forma, a experiência relatada poderá apoiar o tecido empresarial no sentido de encontrar as oportunidades de desenvolvimento de práticas mais adequadas ao seu core business (e mesmo de desenvolver uma política de Responsabilidade Social própria), optimizando as suas competências e recursos, ao serem apoiadas por outras organizações nas competências mais distantes do seu domínio de negócio.
A Economia Social e Solidária e os Serviços de Proximidade em Portugal: a constituição de redes locais de Responsabilidade Social.
Como prevê uma aplicação desta temática à realidade do Ensino Superior e, em particular, do ISCSP?
Penso que este prémio vem de facto aproximar as Universidades da intervenção na área da Responsabilidade Social.
Sendo as Universidades actores que têm enormes potencialidades de intervenção neste domínio, penso que o estudo em questão poderá permitir o aprofundamento do trabalho que o ISCSP tem vindo a desenvolver em termos de Responsabilidade Social.
Reflectindo desde logo acerca da implantação territorial do ISCSP, existem um conjunto de características ambientais, sociais e económicas que se constituem como oportunidades de aprofundamento da nossa intervenção nesta área, através da consolidação das parcerias já existentes com actores relevantes a nível comunitário, nacional e internacional, bem como através do estabelecimento de novas parcerias.
Tendo entre as mais-valias resultantes do contacto com estes actores um melhor conhecimento das realidades, poderemos aproximar os currículos dos nossos ciclos de estudo a essas mesmas realidades, de forma contínua, respondendo, por um lado, às necessidades económicas, sociais e ambientais da comunidade e, simultaneamente, às necessidades de empregabilidade dos nossos estudantes.
Desta forma, penso que a intervenção em Responsabilidade Social não nos desvia do nosso caminho, mas torna-o provavelmente mais consistente e fácil de trilhar.
Penso que este prémio vem de facto aproximar as Universidades da intervenção na área da Responsabilidade Social.
Sendo as Universidades actores que têm enormes potencialidades de intervenção neste domínio, penso que o estudo em questão poderá permitir o aprofundamento do trabalho que o ISCSP tem vindo a desenvolver em termos de Responsabilidade Social.
Reflectindo desde logo acerca da implantação territorial do ISCSP, existem um conjunto de características ambientais, sociais e económicas que se constituem como oportunidades de aprofundamento da nossa intervenção nesta área, através da consolidação das parcerias já existentes com actores relevantes a nível comunitário, nacional e internacional, bem como através do estabelecimento de novas parcerias.
Tendo entre as mais-valias resultantes do contacto com estes actores um melhor conhecimento das realidades, poderemos aproximar os currículos dos nossos ciclos de estudo a essas mesmas realidades, de forma contínua, respondendo, por um lado, às necessidades económicas, sociais e ambientais da comunidade e, simultaneamente, às necessidades de empregabilidade dos nossos estudantes.
Desta forma, penso que a intervenção em Responsabilidade Social não nos desvia do nosso caminho, mas torna-o provavelmente mais consistente e fácil de trilhar.
Artigos relacionados: